VOCÊ ESTÁ SENDO ENGANADO?

26/03/2015 16:21

Um dos grandes desafios para cada um de nós é não nos deixar envolver pela operação do engano. Mas como saber se estou enganado, se a principal característica do engano envolve falta de acerto, erro, desacerto, confusão, equívoco? Quando alguém sabe que está vivendo em erro, deixou de estar na condição de enganado. Já não há engano. Pode até continuar naquela condição, mas agora será por teimosia, interesse, postura leviana, ou, se tratando de fé, até mesmo por incredulidade.

Mas há muitos que acham estar corretos em seu modo de pensar e agir. Daí, a profunda necessidade de termos nossas vidas nas mãos de Deus, pois eu e você estamos sempre a distâncias curtas da operação do engano em nossas vidas. E é uma operação que nem sempre nos encontra apercebidos e as vezes toma nossos corações de assalto, deixando que homens e mulheres com interesse pela fidelidade defendam e pratiquem o que não é o certo, o que não é o melhor para suas vidas e para as vidas que estão em torno deles.

Paulo, já por volta do ano 67, ou seja, quase 2 mil anos passados, já nos alertava para algo terrível: mas os homens maus e impostores irão de mal a pior, engando e sendo enganados (2 Timóteo 3.13). Falava de uma operação do erro que já estava incidindo sobre a igreja, e tenderia a piorar. E com um agravante: eles estariam sendo enganados por seu próprio engano. Estranho, mas é isto o que acontece com muitos, ludibriados por sua própria astúcia.  

Já no início do capítulo 3 desta sua segunda carta a Timóteo Paulo enuncia a marca do final dos tempos, destacando que os homens seriam amantes de si mesmos, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder, entre outras características. Uma série de coisas assolaria a igreja, todas desastrosas em seus resultados perniciosos, mas com um sério agravante: teriam aparência de piedade. Em outras palavras, pareceriam santas, de bons propósitos, mas seria somente a aparência.

Não é assim sempre? As operações danosas as nossas vidas não estão sempre permeadas de aparência de que são boas e buscam nosso bem? Não foi assim o ataque de Satanás aos nossos primeiros pais, com aquele papo de que certamente não morrereis, induzindo ao engano com a lógica de que Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal (Gn 3.4,5)?

A questão é tão séria que o Apóstolo Paulo chega a dizer que teme que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos entendimentos e se apartem da simplicidade e da pureza que há em Cristo. E continua para advertir: Porque, se alguém vem e vos prega outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, de boa mente o suportais! (2 Coríntios 11.3,4).

Aquilo era uma crítica aos irmãos da cidade de Corinto, por serem permissivos, bonzinhos, deixando que falsos mestres estivessem entre eles, ensinando coisas espúrias. Não se tratavam de incentivos claros ao erro ou à adoração da deusa Afrodite, com suas mil prostitutas cultuais que serviam na cidade de Corinto. O problema eram distorções e heresias que assumiam muitas formas, ora enfatizando demais algum aspecto da doutrina cristã, em detrimento de outros, ora negando ensinos fundamentais do cristianismo.  

Paulo estava preocupado, pois disse dos que introduziam os ensinos heréticos no seio da igreja que tais eram falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, disfarçando-se em apóstolos de Cristo (2 Coríntios 11.13), e que não é de admirar, porquanto o próprio Satanás se disfarça em anjo de luz.  Não é muito, pois, que também os seus ministros se disfarcem em ministros da justiça. (2 Coríntios 11.15).

Dada a permissividade dos Coríntios, permitindo falsos ensinos entre eles, com certeza não se encontravam dignos de uma das reconhecidas qualidades dos irmãos de Éfeso, sobre os quais o próprio Cristo diz: conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua perseverança; sei que não podes suportar os maus, e que puseste à prova os que se dizem apóstolos e não o são, e os achaste mentirosos (Apocalipse 2.2).  

Nosso Senhor Jesus esteve e podemos dizer que está muito preocupado com a questão de nossa sujeição ao engano. Foram várias as suas advertências. Ele nos disse: Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores (Mateus 7.15). Vejam bem, disfarçados como ovelhas! Como identificarmos estes lobos? Será que eles próprios sabem que estão exercendo a função de lobos, devorando a fé das ovelhas? Saberiam que ensinos aparentemente interessantes, mas que mesclam verdades com mentiras, como fez a serpente no Éden, roubam a fé verdadeira e conduzem à perdição os que nisso creem?

São tantos hoje que fazem a obra de Deus relaxadamente, displicentemente, levianamente, e tantos outros adjetivos aplicáveis, que acumulam grande maldição sobre eles e sobre o rebanho (Jeremias 48.10; Malaquias 1.12-2.8).

A igreja está sendo assolada por ensinos carnais, em um humanismo sem limites. Há uma busca desenfreada por crescimento numérico da igreja visível, baseados principalmente em técnicas, sem ou com pouca consideração da Bíblia e seus princípios; ênfase na cura da alma e resolução de nossos problemas de relacionamentos baseados em desenvolvimentos comportamentais, aceitação própria e do outro, e uma infinidade de conceitos fundamentados nas ciências humanas (ensinos antropocêntricos), que desconhecem ou simplesmente mesclam princípios bíblicos, sem reconhecer de fato a suficiência das Escrituras.

Os desafios de nossos tempos são os maiores de toda a história da igreja. Já nos dias de João ele ensinava: Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo (1 João 4.1).

Jesus advertia, chamando a atenção para o fato de que hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão sinais e prodígios para enganar, se possível, até os escolhidos (Marcos 13.22). Aqui Jesus fala de uma onda avassaladora de enganos sendo plantados no seio da igreja, que até aqueles que Deus, por sua presciência conhece como eleitos, correriam o risco, não fossem sua firmeza e amor pela verdade.   

Aquela situação que no testemunho do Apóstolo Pedro já tinha ocorrido, e sobre a qual ele dizia aos seus leitores, e o Espírito Santo diz a nós, deve nos tornar mais vigilantes ainda. Pedro disse: Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. E muitos seguirão as suas dissoluções, e por causa deles será blasfemado o caminho da verdade; também, movidos pela ganância, e com palavras fingidas, eles farão de vós negócio; a condenação dos quais já de largo tempo não tarda e a sua destruição não dormita. (2 Pedro 2.1-3).

São tempos de uma teologia liberal. Nas rádios e televisões são pregados evangelhos que dispensam a fidelidade. Afirma-se que “nada que você faça fará Deus te amar mais”, em claro desconhecimento, por exemplo, dos ensinos existentes em Jo 3.16 e Jo 14.23. Ensinam que “nada que você faça fará Deus te amar menos”, passando ao largo, por exemplo, de Mateus 10.33 ou de Apocalipse 3.16. São declarações irresponsáveis, carregadas de desrespeito pela Palavra e pelo ouvinte.

Muito comum e muito próximo de nós está o Evangelho da Prosperidade, presente em nosso meio em diversos níveis: do mais ameno ao mais radical. Utiliza-se de declarações (confissões) positivas ousadas, às vezes sob a palavra de ordem “profetiza” na sua vida ou na vida de seu irmão, sem qualquer fundamentação que tenha a ver com uma profecia, algo que venha da parte de Deus ou tenha fundamento bíblico.

São muitas as declarações duvidosas, do tipo “O Senhor é meu pastor e nada me faltará” (Sl 23.1); “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13); ou “Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra” (Is 1.19), em claro descompromisso com o contexto. São aplicações perniciosas da Palavra de Deus, com o fito de atrair, tornar o evangelho interessante para aquele que busca tão somente alimentar a carnalidade e viver um cristianismo que atenda aos seus interesses temporais. 

Às vezes este Evangelho da Prosperidade, além de pregado nos púlpitos, já está em nossos próprios corações, em um astucioso engano plantado pelo inimigo de nossas almas. Vem na forma de minimização do pecado, minimizando assim a importância do sacrifício de Cristo, e apenas falando sobre como as coisas irão bem se você “aceitar” a Cristo, em um claro convencimento em substituição à necessária conversão.

Equivocadamente vivemos uma ênfase muito grande ao conceito: “Sou filho do Rei. Um príncipe. Portanto tenho direito ao melhor”. Isso passa longe do verdadeiro ensino bíblico que diz que na verdade todos os que querem viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições (2 Timóteo 3.12), e ainda: pois vos foi concedido, por amor de Cristo, não somente o crer nele, mas também o padecer por ele, (Filipenses 1.29). Ao contrário, a perspectiva bíblica é: Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos (Romanos 6.8).

Na lógica do engano, que busca o coração da igreja, há uma mensagem de salvação pela fé, que dispensa as obras. O contraste é feito normalmente de modo desonesto: A salvação é pela fé/graça ou é pelas obras? Claro: A salvação é pela fé. Não vem das obras. Mas não dispensa a frutificação, ou seja, não dispensa nosso cuidado em nos deixar ser conduzido pelo Espírito Santo para uma vida frutuosa, pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus (Romanos 8.14).

A igreja, eu e você, não podemos dispensar aquilo que a Palavra priorizou. Não é uma doutrina de obras para a salvação, mas obras porque há a salvação. Tiago é claro neste ensino: vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada (2.22); vedes então que é pelas obras que o homem é justificado, e não somente pela fé (2.24); porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta (2.26). E pergunta: quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras em mansidão de sabedoria (Tiago 3.13).

O Novo Testamento é repleto de ensinos sobre a necessidade de obras que testemunhem nossa fé. Longe de ser legalistas, precisamos ser atenciosos ao fruto que nossa conversão deve gerar. Isto é algo que deve ser anunciado a fortes pulmões. Pedro exorta: tendo o vosso procedimento correto entre os gentios, para que naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, observando as vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação (1 Pedro 2.12). Igualmente João nos adverte: filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obras e em verdade (1 João 3.18).

Precisamos vigiar, pois vivemos uma lógica invertida. De muitas maneiras temos feito Cristo nosso servo, útil para atender às nossas necessidades, e dificilmente temos ido a Cristo como servos, para dizer: “Senhor, o que queres que eu faça”.

De algum modo estamos vivendo a admoestação do Senhor através do profeta Jeremias, que disse: Contudo o meu povo se tem esquecido de mim, queimando incenso a deuses falsos; fizeram-se tropeçar nos seus caminhos, e nas veredas antigas, para que andassem por atalhos não aplainados (Jeremias 18.15). 

Tudo isto abre as portas para a operação do engano em nosso meio. Muitos já estão com seus corações tomados por conceitos equivocados, distantes da Palavra de Deus.

Aconteceu-me em uma situação de falar de um específico ensino bíblico a alguém, que, se vendo confrontado me disse: “é pastor, sabemos que a Bíblia é um livro de mistérios, e cada um tem a sua interpretação”. Que saída, não? Isto é amar a mentira, para não ter que enfrentar sua própria torpeza. Dar o benefício da dúvida ao pecado, em vez de ceder lugar à santidade e a vontade de Deus.  

O problema é que as vezes alimentamos este tipo de conceito em nossos corações, a interesse do erro. E mantemos nossas vidas um pouco mais distantes da Palavra, pelo risco de ela nos confrontar e precisarmos mudar aquilo que nossa carne não quer mudar. Fazemos-nos vítimas do que o Senhor anunciou em Oséias 4.6: O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porquanto rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.

E ai o iníquo atua. A esse iníquo cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás com todo o poder e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para serem salvos.  E por isso Deus lhes envia a operação do erro, para que creiam na mentira; para que sejam julgados todos os que não creram na verdade, antes tiveram prazer na injustiça (2 Tessalonicenses 2.9-12). Por mais dura que seja, esta palavra é para muitos que estão dentro das igrejas cristãs, seduzidos pelo erro, e não conseguem mais enxergar isto. Já foram entregues por Deus à operação do engano.

Qual seria a única saída aos que ainda podem acordar? Ouvir a sabedoria divina nos repassada através de Paulo: Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a infância sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela que há em Cristo Jesus. Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra. (2 Timóteo 3.14-17). Se algo não passou adequadamente pelo crivo da Palavra, cuidado.

Não dê o benefício da dúvida ao pecado, mas à santidade, sem a qual ninguém verá a Deus. Não se deixe enganar. Viva conforme a Palavra de Deus.

Pr. Samuel Alves Silva, 26/03/2015