VOCÊ É UM ATEU PRATICANTE?
A pergunta não deixa de ser agressiva. Desculpe-me, mas preciso desafiar a você, como a mim também, a responder, após uma reflexão. Até que ponto não temos sido ateus praticantes? Ou, igualmente importante, em que situações em nossas vidas não nos comportamos como verdadeiros ateus?
Esta condição me chamou à atenção no estudo de Efésios 2.12, onde o texto bíblico, tratando da condição dos crentes efésios, antes de suas conversões, diz que “naquele tempo, estavam sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo”.
Destacando aqui apenas a condição “sem Deus no Mundo”, vamos descobrir que esta ausência de Deus é uma conseqüência do estar sem Cristo. Apesar de sermos cristãos, em um sentido prático esta condição deve chamar a atenção de todos nós, pelo risco de nos encontrarmos em muitos momentos, se não em todos, como se não tivéssemos um Deus.
Nossas ações, palavras e pensamentos, se não centradas na vontade de Deus, nos levam ao precipício do ateísmo prático. Se não é dada a devida importância para a vontade de Deus, não é uma negação de sua importância? E olhe que não estou falando de algo que deliberadamente tenha sido feito para contrariar uma vontade revelada, mas tão somente se não nos preocupamos com a vontade de Deus o suficiente para que ela interfira em nossas decisões.
Deixando de lado o ateu teórico, aquele que argumenta a não existência de Deus (esse crê muito, pena que negativamente), se buscarmos a definição da palavra “ateu”, vamos encontrar, no Aurélio, que é alguém que não crê em Deus. Russell Champlin, comentando Efésios 2.12, nos diz que a palavra vem do grego atheoi, “ateus”, ou seja, sem Deus, significando “alguém que desdenha de Deus e suas leis, ou os nega, que vive como ateu prático, como se Deus não exercesse domínio sobre sua vida, e nem tivesse qualquer importância”.
A aplicação que Champlin dá para o termo não é diferente do simples “não crer em Deus”, visto que crer em Deus não é algo que pode ficar na esfera intelectual, mas precisa avançar para uma diferença em nosso viver diário, alcançando tudo o que somos e fazemos. Crer significa dar crédito, acreditar, a ponto de confiar, como no uso comercial do termo. Se alguém tem crédito, pode tomar um bem (comprar), para pagar depois. Isto é a figura do crédito.
Em relação a Deus é a mesma coisa. Como a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem (Hebreus 11.1), dar crédito a Deus é confiar a Ele nossa vida, inteira, integral, sem nada excluir, deixando-o assumir plenamente o controle (Romanos 8.6-9) e não lhe negando nada, até mesmo nas mínimas coisas como o comer e o beber (1 Coríntios 10.31), na certeza de que se com Cristo morremos, com Cristo viveremos (Romanos 6.5-8).
Assim, em tudo devemos ser atenciosos para fugir da condição de ateus praticantes, ou seja, não podemos viver como se a vontade de Deus não tenha significado ativo em nossas vidas.
A coisa é grave mesmo. Um perigo em nossos dias é uma vida cristã no piloto automático. Às vezes pensamos que Deus é que está a serviço de nossos interesses, ou que nossos interesses sempre se encaixam na vontade de Deus, pois afinal ele quer o nosso bem, o nosso prazer, o nosso gozo. Nada mais equivocado. Sim, Deus quer o nosso regozijo, mas a Bíblia é clara em que este regozijo precisa ser no Senhor (Filipenses 4.4). Se não vivemos para o Senhor, objetivamente, podemos estar sendo ateus praticantes.
No mundo pós-moderno isto é loucura, eu sei. Pois o que é a verdade para um pós-moderno? Nada. Ou quem sabe, tudo, vez que cada um pode ter a sua verdade. Mas para um Cristão, a verdade foi, é, e sempre será Cristo (João 14.6; Hebreus 13.8). Para aquele que pensa biblicamente há sim absolutos, mesmo num mundo tomado pelo relativismo, e Deus precisa ser nosso Deus em todos os momentos e motivações de nossa vida.
Não podemos correr o risco de ser como Sansão, que uma vez tendo o poder de Deus em sua vida, se acostumou com as vitórias, confiou, banalizou, a ponto de não vigiar e olhar, pleitear, casar-se com uma mulher filistéia. Daí para um vínculo com uma prostituta foi um pequeno pulo. E um dia, a Bíblia diz que “ele não sabia que o Senhor se tinha retirado dele (Juízes 16.20). Se não cuidamos, um dia podemos ser encontrados vivendo sem Deus, sem saber.
Mesmo nos conceitos simples da vida moderna, precisamos inserir a vontade de Deus. Se Deus puder governar nossas vidas, também em nossas casas sua vontade estará em primeiro lugar. E como conseqüência não se falará em democracia na igreja, pois se um servo de Deus exerce o direito de escolha, o fará sob a orientação de Deus. A democracia se converterá em teocracia. Vivendo em sintonia com a vontade de Deus, será instrumento do governo de Deus também em sua comunidade, cidade, estado, país, e assim por diante. Assim o que passará a existir, através do crente, é uma teocracia. Imagine se os milhões de crentes de nosso Brasil vierem a ser instrumentos da teocracia.
Mas sempre que não centramos nossas vidas na vontade soberana de Deus, agimos como não crentes, como se a vontade de Deus não tivesse importância ou, nos termos usados por Paulo, como sem Deus no mundo. Os que assim agem, mesmo que nominalmente cristãos, terão suas mais nobres realizações vazias de significado, pois “afirmam que conhecem a Deus, mas pelas suas obras o negam, sendo abomináveis, e desobedientes, e réprobos para toda boa obra (Tito 1.16).
Não foi esta a condenação daqueles que diziam “senhor, senhor”, mas não se atentavam à vontade de Deus. Achavam que estava tudo bem porque profetizavam, expulsavam demônios e operavam maravilhas no nome de Jesus, mas aquilo, que parecia muito bom, não estava subordinado à vontade de Deus, e portanto não eram obras aceitáveis para o Senhor, que afirmou não conhecê-los (Mateus 7.21-23). Eles eram ateus praticantes. E você?
Pr. Samuel Alves