UM JUGO SUAVE

31/03/2015 16:10

Um texto bíblico que com certeza nos desafia a uma melhor compreensão é aquele em que Jesus nos diz: Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo e leve (Mateus 11.28-30).

Mas o que de fato Jesus estaria querendo dizer com isto? Estaria correto aqui um entendimento de que servir a Cristo é algo que não exige muito de nós? Estariam corretos os que entendem que por Jesus já morrido pelos pecados da humanidade, poderíamos “viver a vida” ao nosso prazer? Já não está tudo pago mesmo? Por que viver de modo regrado, religioso, ou mesmo, como dizem alguns, de modo legalista?

Considerando isto, é oportuno tentarmos avançar na compreensão do que Cristo diz com seu convite.

O que é um jugo? Também conhecido como canga, o termo nos leva a figura de uma peça de madeira colocada ao pescoço de bois e que os atrela a carroças, arados, etc. Era um instrumento de subjugação do animal, para que pudesse ser usado no trabalho. Seu uso era comum e necessário nos dias antigos, mas ainda hoje há lugares em que o jugo é usado, inclusive sobre equinos. Alguns povos punham jugo sobre os escravos e prisioneiros. Era um instrumento de subjugação.

Mas nos dias de Jesus o termo, bem como o conceito da subjugação, também se referia ao conjunto de regras e interpretações de um rabino, ou seja, um mestre do judaísmo, impostas aos seus discípulos. Cada um tinha seu jugo. Os jugos impostos pelos rabinos a seus discípulos normalmente eram extremamente pesados, pois incluíam os ordenamentos da lei, e as diversas interpretações e normas acrescentadas pela tradição, e a interpretação pessoal destes mestres.

O problema estava no que Cristo criticou. Ele disse: Na cadeira de Moisés se assentam os escribas e fariseus. Portanto, tudo o que vos disserem, isso fazei e observai; mas não façais conforme as suas obras; porque dizem e não praticam. Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; mas eles mesmos nem com o dedo querem movê-los (Mateus 23.2-4). Lucas 11:46 registra: Ele, porém, respondeu: Ai de vós também, doutores da lei! Porque carregais os homens com fardos difíceis de suportar, e vós mesmos nem ainda com um dos vossos dedos tocais nesses fardos.

Mas a pior coisa é que estes jugos, e os pesados fardos a que os judeus eram submetidos, não vinham acompanhados da essência, ou seja, dos valores que lhes dariam sentido, sendo na verdade um peso morto, sem o necessário valor espiritual. Por isto a crítica de Jesus Cristo: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas (Mateus 23.23). Lucas registra a mesma crítica: Mas ai de vós, fariseus! Porque dais o dízimo da hortelã, e da arruda, e de toda hortaliça, e desprezais a justiça e o amor de Deus. Ora, estas coisas importava fazer, sem deixar aquelas (Lucas 11.42).

Aquilo precisava de uma correção. Jesus então nos chama a uma profissão de fé, com base em sua vida e ensino. Somos chamados a nos submeter a suas ordenanças. Ele também era um mestre e afirma isto (João 13.13). Nesta condição ele diz: Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Cansados e oprimidos por um peso exagerado e sem sentido. Sem a adequada serventia. Sem o amor e o exemplo, onde as pessoas eram tão somente subjugadas por uma prática meramente legalista. Em Cristo este jugo passa a ser suave. Teriam um fardo, mas comparativamente leve. Isto porque teriam a força necessária, para verdadeiramente se tornarem filhos de Deus (João 1.12).

Mas observe. Cristo não disse que não haveria jugo ou fardo. Pelo contrário. Ele estabeleceu princípios em patamares mais altos que os ensinados por aqueles mestres. Ele disse: Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e, Quem matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e quem disser a seu irmão: Raca, será réu diante do sinédrio; e quem lhe disser: Tolo, será réu do fogo do inferno (Mateus 5.21,22). Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela. Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que vá todo o teu corpo para o inferno (Mateus 5.27-30).

O desafio de seguir a Cristo não é tão simples. Ele diz: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me (Mateus 16.24; Marcos 8.34; Lucas 9.23). Ele também disse: se me amardes, guardareis os meus mandamentos (João 14.15). Há um fardo, mas não estamos sozinhos nesta empreitada. O próprio mestre garantiu: e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Ajudador, para que fique convosco para sempre (João 14.16).

Por isto nada de entendermos que Cristo liberou geral. Pelo contrário. Contudo ele nos ofereceu o jeito certo de estarmos em Deus. Apresentou-se por exemplo, como ensino vivo. Ele disse algo que os rabinos jamais poderiam dizer: aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas.

Devemos considerar que o amor a Deus faz ai toda a diferença. E foi ao amor que fomos chamados. Quando questionado sobre o maior de todos os mandamentos, Jesus não titubeou e apresentou o fundamento para todas as demais práticas cristãs: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo (Lucas 10.27). Sob este amor qualquer dos ensinos de Cristo será um prazer e uma benção. É sempre um prazer nos submeter àquele a quem amamos.

Jesus não impôs aos homens algo que ele mesmo não poderia praticar. Ele se fez humano como eu e você, esvaziado de toda a sua glória (Filipenses 2.7). E disse que o seu jugo nos seria mais suave que o jugo dos líderes religiosos de seu tempo. E o seu fardo, leve. Não por falta de conteúdo, mas porque teríamos o seu exemplo, a habitação do Espírito Santo, a força de Deus.

Que valha o testemunho do apóstolo Paulo. Ele tributou sua força a Deus, afirmando: sei passar falta, e sei também ter abundância; em toda maneira e em todas as coisas estou experimentado, tanto em ter fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância, como em padecer necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece. (Filipenses 4.12,13). O seu fardo, pelo amor que tinha, e pelo exemplo que seguia, era leve, a ponto de com alegria dizer que para ele o viver era Cristo e o morrer era lucro (Filipenses 1.21).

Assim como os rabinos tinham seus discípulos, Cristo buscou e continua buscando os que querem ir após Ele. Não para viverem sem jugo e sem fardo. Mas para tomarem o seu jugo e o seu fardo. E veja, essa é a única forma de acharmos descanso para as nossas almas. Havendo uma relação de amor e intimidade com Cristo, seguir seus mandamentos será algo maravilhoso e compensador. Não simples e que dispense sacrifícios, mas construtivo, compensador, entusiasmante. Sem Cristo, qualquer prática religiosa será pesada, cansativa e sem sentido. Mas com Cristo será alegria, terá sentido, e resultado certo, pois quando amamos estar com Cristo aqui, guardando a sua Palavra, Ele diz que o Pai nos amará e virão e farão em nós morada (João 14.23). Mas vai além. Ao final ele virá e nos levará para estarmos com Ele para todo o sempre (João 14.3). Compensa. Tome o jugo de Cristo!

 

Pr. Samuel Alves Silva, 31/03/2015