O QUE É O PECADO?

01/10/2023 12:33

Não é incomum que, quando pensamos no pecado, nos limitamos em considerar atitudes grosseiras, como matar, roubar, adulterar, ferir alguém, e coisas assim. Mas isto e várias outras práticas, as vezes até muito boas do ponto de vista comum, é apenas a exteriorização de um pecado maior. Portanto, compreendermos a essência do pecado é um dos aprendizados mais importantes da vida cristã. E o registro de Gênesis nos ajuda a compreender isto. Veja a lógica da serpente, aceita por Eva:

KJA Gn 3:5 Ora, Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e vós, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal!” 6 Quando a mulher observou que a árvore realmente parecia agradável ao paladar, muito atraente aos olhos e, além de tudo, desejável para dela se obter sagacidade, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que estava em sua companhia, e ele igualmente comeu.

Em essência, o erro de Eva, convalidado por Adão, foi tomar suas próprias decisões, assumindo o controle sobre sua vida. Naquele momento ela decidiu por não mais praticar os ensinos de quem a criou, mas fazer o que lhe pareceu melhor, sem depender da vontade de Deus. Nossos primeiros pais, individualmente, decidiram ser o seu próprio deus, assumindo o controle de suas vidas. Cederam ao engano de suas próprias razões.

A considerar os acontecimentos seguintes, não parece que deu muito certo. Foram expulsos do Eden e da convivência diária e direta que tinham com Deus. Seu primeiro filho se tornou assassino por repetir o modo de agir, independente da vontade e conselho de Deus (Gn 4.6-8). E o segundo filho, chamado de justo (Hb 11.4), foi assassinado. E desde então, esta nossa natureza que resiste a Deus, só tem errado em seus alvos, excetuando-se alguns poucos (Mt 7.13-14) que optaram por voltar atras e priorizar a vontade de Deus em suas vidas.

De fato, deve abarcar a compreensão de que o pecado é qualquer coisa que pensemos ativamente, falemos ou pratiquemos, ou ainda que deixemos de praticar, que ao final frustre o que para nós seria o melhor, ou seja, frustre o plano de Deus para cada um de nós.

Qualquer coisa que façamos, que de algum modo não coloque Deus no centro; dito de outro modo, toda e qualquer coisa que façamos sem que sejamos motivados, compreendamos e coloquemos em primeiro plano a vontade de Deus para nós, implica em estar pecando; estar errando o alvo em relação ao melhor plano em nosso benefício, que é a conquista de tudo que Deus preparou para cada um de nós, na eternidade.

O apóstolo Paulo foi muito enfático nisto. Qualquer coisa que façamos simplesmente dirigidos por nossa natureza terrena, a carne, que abarca nossa vontade, nossos sentimentos e nossa razão, sem a direção do Espírito de Deus, e portanto, independente da vontade de Deus, é danosa a nossa vida espiritual. Qualquer coisa. Veja com cuidado o que ele ensina:

KJA Rm 8:5 Os que vivem segundo a carne (vontade, sentimentos e razão, sem a direção do Espírito Santo) têm a mente voltada para as vontades da natureza carnal, entretanto, os que vivem de acordo com o Espírito, têm a mente orientada para satisfazer o que o Espírito deseja. 6 A mentalidade da carne é morta, mas a mentalidade do Espírito é vida e paz. 7 Porque a mentalidade da carne é inimiga de Deus, pois não se submete à Lei de Deus, nem consegue fazê-lo. 8 Os que vivem na carne não podem agradar a Deus.

Vamos descobrir, no ensino de Cristo que pecado não está diretamente relacionado apenas com a qualidade do que fazemos. Em outras palavras, pecados não são apenas aquelas práticas que reconhecemos como negativas - matar, roubar, assassinar, prostituir, ou coisas assim, mas qualquer coisa, inclusive aparentemente boas, divorciadas da vontade de Deus. Jesus exemplificou isto de um modo muito claro:

KJA Mt 7:21 Nem todo aquele que diz a mim: ‘Senhor, Senhor!’ entrará no Reino dos céus, mas somente o que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. 22 Muitos dirão a mim naquele dia: ‘Senhor, Senhor! Não temos nós profetizado em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios? E, em teu nome, não realizamos muitos milagres?’ 23 Então lhes declararei: Nunca os conheci. Afastai-vos da minha presença, vós que praticais o mal.

Veja aquelas pessoas claramente fizeram coisas que representam o ápice da “espiritualidade”: profetizar, expulsar demônios e realizar muitos milagres ou operar maravilhas, e tudo em nome de Cristo. Não está em questão aqui se eles estariam mentindo, e nem se outras pessoas foram ou não abençoadas com suas ações, pois por certo houve a benção aos terceiros.

O que está em questão são suas motivações, que no dizer de Cristo não foram “realizar a vontade de meu Pai que está nos céus”. Esta é a chave desta perícope: só entrará no Reino dos céus quem faz a vontade de Deus. Isto, colocado por Cristo, é manifestação de amor, pelo aviso que traz, com fins a nortear tudo que fazemos ou deixamos de fazer. É o desafio de nos entregar completamente a Cristo.  

Se você tem sido do tipo que faz o quer; quando quer; faz se te convém; faz se te agrada; e não faz se não te agrada; faz se parece bem a sua própria razão; faz se não te sacrifica ou atrapalha, mas te traz algum tipo de prazer; obedece se ao final te convém, independentemente de qualquer avaliação bíblica sobre a questão, e não obedece se não te convém; então você assumiu a condição de ser o seu próprio Deus.

Agora pensemos: se nossos primeiros pais foram expulsos da face de Deus por decidirem estar por sua própria conta, em independência à Deus e sua vontade, não é razoável que consideremos que voltaremos à presença de Deus, para a eternidade, se vivemos à margem da vontade explicitada por Deus em sua Palavra, mas sim buscando ser o deus de nossas vidas.  

Faz parte deste equívoco ignorarmos também os meios de operação de Deus. Em sua estratégia para corrigir nossos caminhos estão a Palavra de Deus (2Tm 3.16,17) e os ministros de Deus em nossas vidas (Ef 4.11-16). Repito, são estratégia de Deus. Portanto, se você não procura saber a vontade de Deus e não ouve seus líderes (e em alguns casos alguns nem consideram que tenha líderes ou agem sem se importar se existam), parabéns (para não dizer, lamento). Você proclamou independência de Deus, ignorando sua vontade, seu cuidado e suas estratégias.   

Quem assim pratica está no estágio de ser o seu próprio deus. O mesmo estágio alcançado por Eva quando aceitou a proposta de “ser igual a Deus” e conquistou a expulsão do Paraíso.

Por isto a chamada de Cristo é radical. Isto mesmo, radical. Cristo não oferece alternativas. E se você ouve e valoriza o senhorio de Cristo, aceita um pacote, que inclui tudo o que ele ensinou, a começar por sua renúncia a tudo que lhe pareça atraente:

KJA Lc 9:23 E Jesus proclamava às multidões: “Se alguém deseja seguir-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz dia após dia, e caminhe após mim. 24 Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa, este a salvará.

Se queres de fato ter um Deus, volta atras enquanto é tempo. Se submeta de coração. É preciso entregar-se completamente a Deus.

A vida dirigida pela vontade de Deus é essencial. E isto inclui o imperativo bíblico de Ef 5:21: sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo.

Além disto, nesta radicalidade de Cristo, não há como servir a Cristo sem guardar os seus mandamentos:

KJA Jo 14:21 Aquele que tem os meus mandamentos e obedece a eles, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e Eu também o amarei e me revelarei a ele.” … 23 Jesus respondeu-lhe: “Se alguém me ama, obedecerá à minha Palavra; e meu Pai o amará, e nós viremos até ele e faremos nele nosso lar. 24 Quem não me ama não obedece às minhas palavras; e a Palavra que vós estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou.

O que destaco é que a essência do pecado é você ser o seu próprio deus, não importa o que você faça. Pode até fazer muitas coisas maravilhosas do ponto de vista humano, mas se estão fora da vontade de Deus, inclusive quanto ao tempo para realizações boas, como um ministério, uma ação social, etc, está agindo independente (sem dependência) de Deus e, portanto, assumindo ser o seu próprio deus.  

De outro modo, a essência do cristianismo, é ser discípulo de Cristo, fazendo tão somente o que Deus te orienta a fazer, quando te orienta a fazer. Isto é um desafio enorme, que se faz pequeno quando o principal passo é dado: entregar sua vida a Deus.

E a graça de Deus? Como alguém pode argumentar, ela não nos exime de todo este cuidado? Não somos livres para fazer o que quisermos, resguardados pela graça de Deus em nosso favor? Não. Ao contrário, ela te capacita a viver conforme a vontade de Deus. O apóstolo João fala desta capacidade:

CF Jo 1:12-13: Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; 13 Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.

O Espírito Santo veio, através de Tito, esclarecer a ação da graça de Deus naqueles que se deixaram alcançar por ela, dizendo:

CF Tt 2:11-13: Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, 12 Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente, 13 Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo;"

E contrário aos que pregam uma graça sem compromisso e dedicação ao Senhor, o irmão de Cristo, Judas, veio esclarecer:

CF Jd 1:4: "4 Porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo."

Tendo afirmado que a essência do pecado é um coração que se dispõe a ser o seu próprio deus, relembremos que nossos corações são enganosos (Jr 17.9-10), sendo isto razão suficiente para nos entregarmos completamente à direção ativa do Espírito Santo em nossas vidas, o que o apóstolo Paulo bem destacou:

AA Rm 8:14: Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.

AA Gl 5:24 E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. 25 Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.

O que deve importar em nossas vidas, não é o que nos apraz; não é o que pensamos ser bom; não é o que nos faz sentir orgulhosos, mas tão somente o que seja a vontade de Deus, comunicada a nós conforme suas estratégias documentadas na sua Palavra. Seja abençoado.

Bp. Samuel Alves, 10/2023

 

KJA – Versão King James Atualizada

CF – Versão Corrigida Fiel

AA -  Versão Almeida Atualizada