O enganado pensa que está certo

05/04/2012 13:48

Em qual evangelho você crê? Há diversos evangelhos sendo pregados em nossos dias. Uma parte da igreja visível está pregando um evangelho mais triunfalista do que realista. Para alguns a mensagem da cruz foi substituída pela mensagem mercantilista do “seja feliz, custe o que custar”. A cada dia triunfa a chamada teologia da  prosperidade, que na realidade nada mais é do que uma mistura de misticismo e positivismo, com as águas e óleos ungidos, afastando-se da mensagem bíblica consistente e fundamentada.

 

Não falo aqui de clichê, ou faixada de igreja, mas daquilo que tem ocorrido na prática de pessoas que estão sendo iludidas por uma mensagem diferente da pregada por Cristo, e a interesse de suas vontades terrenas, acabam enganados, ou seja, achando que estão vivendo o verdadeiro evangelho, foram ludibriados, enganados, como foram nossos primeiros pais, no Jardim do Edem.

Em 2 Ts 2.7-12, Paulo registra: porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora resiste até que do meio seja tirado; E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda; A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; Para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade.

Nossa opção pelo bem estar humano não está nos afastando do que verdadeiramente importa? Será que esta parte da igreja atual, que está vivendo o conceito da prosperidade nestes termos terrenos, não está rejeitando a verdade e crendo na mentira? Não estariam vivendo o mesmo erro da Igreja de Laodicéia, pensando serem ricas e abastadas, com bênçãos que teriam direito por serem filhos do Rei, mas na verdade são pobres, cegas e nuas?

Há um caminho inverso sendo trilhado, de encontro ao exemplo de Jesus. Ele não usou o poder e autoridade que tinha, fruto de sua intimidade com o Pai, para beneficiar a si mesmo. Por que pois poderíamos nós, sua igreja e continuadores de sua obra, priorizar o benefício próprio? Não deveríamos seguir seus passos? Isto não significaria usar das oportunidades espirituais que temos para ser instrumentos nas mãos de Deus em benefício de sua vontade, ou seja, para a salvação do mundo? Por que então nos envolvermos com a busca de bênçãos terrenas como se tivéssemos direitos adquiridos?

Vivemos um profundo dilema. Há uma igreja visível que vive sua própria suficiência, para não dizer auto suficiência.  Não mais importam os princípios ensinados por Cristo. Fruto de um sentimento de que tudo está certo, de origem pós-moderna, esta igreja caminha com suas próprias pernas. Importam são seus próprios concílios, ensinos, teologias, argumentos, fatos históricos, experiências pessoais, etc.

E a dependência de Deus e de sua Palavra? Não importa tanto assim, contudo, uma seleção de versículos bíblicos, na maioria dos casos aplicados fora do contexto, justificam sua fé, tais como aquele “comerás o melhor desta terra”, mal entendido e mal utilizado. O que tem acontecido é que amando a si próprios, muitos acabam na teia do engano.

ATENÇÃO: ESTAR ENGANADO É EXATAMENTE ESTAR ACHANDO QUE ESTÁ CORRETO, QUANDO EM VERDADE NÃO ESTÁ.

Ninguém enganado sabe que está enganado. Se assim fosse não seria engano, mas opção consciente. Uma pessoa enganada, sem saber, está amando a mentira ao invés da verdade; amando o mundo ao invés de Deus; Está trocando a vida eterna pela vida terrena.

É disto que nos fala o texto de 2 Tessalonicenses, capítulo 2. Uma vez que alguns fizeram opção por amarem mais a si mesmos, antes que a Cristo, foram entregues à operação do erro, do engano, para amarem a mentira, vez que não amaram a verdade.

Escrevemos estas linhas para ajudar alguns a refletirem em suas vidas, e também, quem sabe, se alertarem para ajudar a outros. 

 A verdadeira prosperidade não é aquela que diz que cristão não sofre, que sempre tem dinheiro, saúde e sucesso. Olhando atentamente as Escrituras veremos que todos os grandes homens e mulheres da Bíblia passaram provações, dificuldades e sofrimentos.

Os apóstolos foram assassinados (menos João). Milhares de santos foram martirizados. Por que alguns hoje acham que são mais merecedores que aqueles irmãos? Será que estamos vivendo a mesma missão, o mesmo compromisso, o mesmo amor?

Veja o exemplo de Jesus. Em Hebreus 5.7-9 podemos ler assim: “Durante os seus dias de vida na terra, Jesus ofereceu orações e súplicas, em alta voz e com lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, sendo ouvido por causa da sua reverente submissão. Embora sendo Filho, ele aprendeu a obedecer por meio daquilo que sofreu; e, uma vez aperfeiçoado, tornou-se a fonte da salvação eterna para todos os que lhe obedecem.” Qual a diferença entre Jesus é nós? O próprio Filho de Deus passou por lutas e provações. Ele aprendeu no sofrimento. E ele disse que se perseguiram a ele, também perseguiriam a nós (Jo 15.20). Isso é bem diferente daquilo que alguns pregam hoje. Seria outro evangelho?

Movidos em primeira mão por suas necessidades básicas, mas em seguida por outras motivações não tão dignas, quanto à inveja, a ganância, o poder, etc, muitas pessoas buscam a Deus tão somente por aquilo que Ele pode oferecer, ignorando o Seu caráter e o desejo do Seu coração de que sejamos pessoas transformadas. Isto explica os que estão dentro das igrejas, celebrando a vida terrena, fazendo uso de declarações que afirmam serem proféticas, mas não procedem de Deus.

Os textos bíblicos ou mesmos as declarações proféticas, isoladas dos propósitos de Deus, de nada mais servem, a não ser para nossa própria condenação. Não funciona “profetizar na vida de meu irmão” se isto não vem de Deus. É auto sugestão, tão somente. Alguém pode dizer: Mas eu creio. E daí? Uma fé fundada em conceitos errados é válida para Deus?

O maior de todos os problemas tem a ver com o número expressivo de pessoas que estão sendo distanciadas do senhorio de Cristo, e em vários casos até sendo decepcionadas com o cristianismo materialista, que vende o que não pode entregar. Quem responderá pela alma dos que se perderem, por mensagens equivocadas, pregadas por pessoas que em vários casos até são bem intencionadas, mas não amaram a verdade o suficiente para buscarem da água limpa?

As pessoas perecem porque não amaram a verdade (2 Ts 2.11). E o que é esse “amor da verdade”? Ora, leiamos juntos: “A tua justiça é uma justiça eterna, e a tua lei é a verdade” (Salmos 119.142); “Tu estás perto, ó Senhor, e todos os teus mandamentos são a verdade” (Salmos 119.151); “Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade” (João 17.17).

Vejam que “receber o amor da verdade” é uma analogia a se esforçar para receber o conteúdo da palavra de Deus e conhecê-lo! Isso implica em ter uma atitude semelhante àquela que os bereanos tomaram, conforme relata Atos 17.10-11, e isso poucos se dispõem a fazer: hoje a maioria se contenta em seguir as “fórmulas mágicas” que prometem ensinar como conseguir “tudo de Deus”.

Sabe queridos, não basta conhecer uma série de palavras e promessas bíblicas, em maioria tiradas do antigo testamento, formando uma rede que justifica ideias distorcidas. Alguns até são muito afiados na Bíblia, mas como o são os Testemunhas de Jeová, que conhecem e defendem apenas o que lhes interessa. É preciso conhecer a vontade de Deus expressa em sua Palavra, e não a nossa vontade encontrada na Bíblia.  

A boa notícia é que há um remanescente denominado de Igreja Invisível. E a este remanescente o apóstolo Paulo registra, no versículo 15, um alerta, uma espécie de vacina contra todo e qualquer pseudo-ensino: Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa. 

Na época de Paulo ainda não existiam as escrituras impressas do NT, por isso ele ordenava ao povo de Tessalônica que retivessem a palavra que fora ensinada por ele, e demais apóstolos. Hoje temos a Palavra de Deus em nosso alcance, e é nela que temos que nos segurar e nos apoiar quando vêm as tribulações, as perseguições, a apatia, o mundanismo e inclusive os falsos ensinos.

Estejamos atentos a este conselho de Paulo e não nos deixemos levar pelas teologias enganosas, que deturpam a verdade bíblica. Estejamos firmes, fundamentados na palavra, considerando-nos peregrinos e forasteiros neste mundo, buscando ajuntar tesouros nos céus, e preparados para morar nas mansões celestiais.

Que tomemos posse daquelas bênçãos que já são nossas (Ef 1.3), a começar por uma profunda dedicação à sua vontade, em verdadeira renúncia a nossa vida (Mc 8.35).

 

Por Samuel Alves Silva