Hoje é um dia perfeito

04/04/2012 08:51

Cada dia é perfeito, quando vivido na presença de Deus. Quando um vaso é formado, um oleiro zeloso sempre cuida em amassar bem o barro, para que a massa possa estar tão homogênea, tão igual, que possa garantir a adequada qualidade que quer atribuir ao vaso que está moldando. Muitos detalhes são encontrados. Alguns torrões de barro podem ser desfeitos e inseridos no conjunto da matéria prima.  Mas outros, mais rígidos, precisam ser retirados, assim como as coisas impuras encontradas enquanto o barro é amassado. Pedras, madeiras e tudo que possa interferir na qualidade da massa são retirados.

Pudesse o barro falar, chorar ou reclamar diria de sua dor, ou de seu apego por aquelas pedrinhas que o acompanharam desde sempre, ou de seus outros apegos, que agora são atingidos de modo direto por aquelas mãos que insistem em submetê-lo a zelosa inspeção. Talvez o barro diria: “mas por que ser tão rígido comigo, me revisando por inteiro e me despojando daquilo que sempre esteve comigo e me forçando a uma transformação que não sei sequer compreender?” Com certeza a resposta seria: “porque quero te fazer um vaso especial, bonito, útil, sem ranhuras e fendas. De outro modo você permaneceria um barro inútil, ou seria um vaso com defeitos, que para mais nada serviria, senão para voltar a condição de inutilidade”.

É isto mesmo, somos uma matéria prima nas mãos de Deus. E a beleza de viver nas mãos de um Deus que tudo sabe, e que nos ama tanto, a tal ponto, de dar a vida de seu único filho para pagar por nossos pecados, em morte expiatória, vicária (Jo 3.16), é que podemos confiar em seus propósitos. Nós somos o barro, sempre de origens que carecem de um processo de purificação.

Usando esta figura, que é bíblica (Rm 9.21), sabemos que o conjunto de valores que trazemos conosco desde nossas raízes, precisa de muito trabalho por parte do Oleiro, Ele. Precisamos ser quebrados para que sejam identificadas as sujeiras em nossos corações. Nossas tradições familiares, nossos valores terrenos e egoístas, nosso cuidado exagerado com nossos próprios umbigos, nossa sujeira de “mundo” equivalem àquelas sujeiras que só atrapalham o vaso a ser de boa qualidade. E precisam ser retiradas pelo nosso Oleiro.

Eis ai a essência do que quero manifestar nestas palavras: a riqueza das experiências que Deus nos dá em nosso dia-a-dia. Não importando muito que o dia tenha sido cheio de coisas que possam ser avaliadas por nós como boas ou más, nas mãos de Deus, cada dia é um dia de trabalho do oleiro, preparando tudo que ele precisa para que o vaso seja perfeito. Quando vivido na presença de Deus, cada dia é uma oportunidade para nos tornarmos mais à semelhança do projeto de Deus para nossas vidas. Cada dia, com seu conjunto de ocorrências é uma oportunidade de trabalho para o Oleiro, e de purificação, aperfeiçoamento, para nós. Mesmo que algo ruim tenha acontecido, ou venha a acontecer, sabemos que nosso oleiro está atento, procurando melhorar o barro, para sua obra especial.

Na verdade o único segredo para isto é que confiemos em Deus. O barro, eu e você, caso dialogasse com o oleiro, entenderia seu cuidado. Nos, se dialogarmos com Deus, a começar por compreender sua vontade revelada através de sua palavra, reconheceremos que não somos nada de nós mesmos. Compreenderíamos que quando submetidos à sua vontade estamos em obras, e portanto, nas mão dele. E aí lhe daríamos toda liberdade para nos amassar, nos moldar, retirar de nós, mesmo que com dor, todo nosso sentimento de auto-fortaleza, aquele que vem de nós mesmos, para assim podermos confiar numa pureza que procede de sua obra.

Mesmo o que nos pareça angustiante e dolorido, nas mãos do Oleiro, serão itens importantes na formação de um vaso de qualidade. Assim, pode doer, mas é maravilhoso, pois Ele estará utilizando em proveito de seu projeto: nos fazer vasos de honra.

Todos podemos escolher como vamos encarar nossos eventos cotidianos. Aceitá-los como obra de Deus, ou toma-los como azares da vida, coisas corriqueiras que só pelejam contra nós.

Lembro-me de um amigo que dizia que “pão de pobre só cai com a manteiga para baixo”. Era uma forma de dizer que as coisas ruins acontecem contra nós, e na verdade tendemos a enxergá-las sempre da pior forma possível. E não em nosso benefício. Mas não é isto o que a Bíblia ensina. Diz-nos a Palavra que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.28,29). É isto que o oleiro quer, usar cada situação para que sejamos um vaso à imagem daquele vazo modelo, que é o Unigênito Filho de Deus.

Eis o valor do hoje, e de todas as suas “experiências”. Não importa se boas ou más, segundo nossa avaliação. Não sei nem se importa nossa avaliação, pois estou convicto de que somos muito limitados para avaliar o quanto algo possa ter sido bom ou ruim quando vistos sob a perspectiva de toda uma vida.

Importa é confiar na perspectiva de um Deus, que tudo sabe, tudo pode, e nos ama ao extremo, e garante, sim, Ele garante, que todas as coisas cooperam para  o bem daqueles que o amam, para que sejamos conformes à imagem de seu Filho.  É o Grande Oleiro nos dizendo: “neste dia, como em todos os dias passados, e em todos os dias que virão, eu sempre agirei para te tornar um vazo especial, de honra, à semelhança de meu Filho amado. Tão somente deixe-me fazer deste dia em sua vida um dia especial, pois tenho a capacidade de transformar até maldições em bênçãos, e naquilo que pode representar perda ou dor, estarei purificando sua vida, te amassando para que tomes a qualidade necessária para mim. Se o mundo não é fiel, eu sou. Se as coisas não acontecem como você gostaria, saiba que ainda assim eu as tomo em minhas mãos e as transformo em úteis para que você seja à imagem de meu filho. Eu sou seu modelador, mas você precisa confiar em mim, e ver em cada dia uma oportunidade de que seu oleiro trabalhe sua natureza, seu coração, seus objetivos, sua confiança. Confia em mim, e o mais eu farei (Sl 37.3-5).

É isso. O dia de hoje é maravilhoso, como foram os passados e serão os futuros. Há sabedoria em vivermos a beleza de cada momento. Rindo ou chorando. E entregarmos a Deus nossa confiança de que Ele é o Senhor da história, e melhor, da nossa história. Mas esta história, este dia, este momento e todos os momentos, precisam ser entregues a ele, sem reservas de domínio. A experiência de Paulo precisa ser nossa experiência: “Para mim o viver é Cristo e o morrer é ganho” (Fp 1.21).

Não precisamos de muito esforço para isto. Na verdade de nenhum esforço. Só uma entrega, uma renúncia. Um se deixar estar nas mãos de Deus, sabendo que ele é o autor e consumador de nossa fé. E se está difícil, então você está descobrindo o cominho, ou seja, está passando no primeiro dos testes, o de sua incompetência, pois pela carne nada conseguiremos. Está difícil, se entregue a Jesus. Diga a Ele que está difícil e deixe que ele faça o mais por você. Se renuncie. Quando isso acontece, ele te toma nos braços, e sua próxima etapa na jornada não será por suas forças, mas levado por aquele que é especialista em usar o hoje para te abençoar.

Este dia, o hoje, assim como o ontem e o amanhã, é um dia perfeito, não por seus acontecimentos, mas por ser ferramenta de trabalho de um oleiro, que está aperfeiçoando sua vida e minha vida, para sermos vasos de honra.  Deixemos ele nos moldar. Regozijemo-nos nisto.

 

Por Samuel Alves