Chamado e preparação à luz da Bíblia - 2ª Parte

02/03/2012 16:23

 

Para Deus a capacitação era, ou melhor, é tão importante que nas três principais listas dos dons do Espírito Santo estão presentes aptidões para o ensino.  Em Romanos 12.7, Paulo afirma que o que ensina deve se dedicar em fazê-lo. Em 1Co 12.8 temos dos dons da palavra da sabedoria e da palavra do conhecimento, próprios aos educadores e em Efésios 4.11 o dom ministerial de mestre.

Neste último, Paulo registrou: E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de CristoO apóstolo nos mostra que as funções ministeriais têm a responsabilidade de preparar os outros membros do Corpo de Cristo para a obra de Deus, visando a edificação do Corpo. Ora, se a estes foi dada a missão de “aperfeiçoar” os demais para o ministério, certamente devem ser muito bem preparados. Pois vão preparar os demais. Preparar é qualificar, aperfeiçoar, moldar, formar, capacitar, etc. Assim, não é por acaso, que uma das características do Bispo (que neste contexto se equivale ao Pastor ou Presbítero) seja ser capaz de ensinar (1Tm 3.2). É assim, ou a Palavra de Deus está sendo menosprezada.

Paulo foi um plantador de igrejas, mas também um teólogo. Foi muito cuidadoso das obras que implantou e por onde esteve. Escrevia dando orientações para estas igrejas sobre suas relações com Deus e com o próximo (isto é teologia). Ia às igrejas orientá-las e discipliná-las. Treinava e orientava os seus líderes. Em Éfeso, investiu três anos, dia e noite, capacitando aos presbíteros de daquela igreja. Zelava do “tudo” de Jesus (Mt 28.20). Orientava que o obreiro não poderia ser neófito (1Tm 3.6) e que devia manejar bem a palavra da verdade (2Tm 2.15).

Literalmente neófito significa “recentemente plantado”, como uma árvore verde, recém-convertido (alguém que tenha recentemente se tornado um cristão). Para tamanha responsabilidade como a de administrar uma igreja e ministrar às vidas não pode ser uma pessoa não preparada. Fica claro que o líder de igreja deve ser alguém relativamente maduro na fé e preparado para tal missão, sob o risco de alimentar os exércitos de desviados e decepcionados com a fé cristã.

Em João 15.1-6, Jesus deixa claro que todo cristão é chamado para produzir (sem frutos serão lançados no fogo). Então, o diferencial é a resposta que damos a este chamado de Jesus: enterrar o talento ou não (Mt 25.14-30). Fazer do jeito de Deus, conforme Ele nos orienta em sua Palavra, atento às necessidades de sua obra, ou fazer relaxadamente, sob pena de maldição (Jr 48.10).

Neemias deu uma grande resposta, porque tinha capacidade. Viu a necessidade, se dispôs e teve a benção de Deus. Em contrapartida, os sacerdotes do tempo de Malaquias já não ofereciam o melhor para Deus (Ml 1.6-14). Portanto, se um chamado não se esmerar em oferecer o seu melhor para Deus deve ser preocupar em saber se está servindo conforme Deus ou conforme princípio ou filosofia que não agrada ao Senhor., já profetizadas, entre outros, pelo próprio apóstolo Paulo (2Tm 3.13).

Ora, se para tratar o corpo um médico se prepara aproximadamente 10 anos e continua a estudar sempre, como se justificaria a pouca importância para tratar a alma? Afinal as questões relacionadas a pouca preparação não se relacionam também com o grande número de desviados e desiludidos nas igrejas, bem como com as meninices e práticas que fogem do padrão bíblico? Quem pode oferecer mais do que tem? Ou seria responsabilidade do Espírito colocar nas mentes o que alguém não buscou? Por que Jesus teria dito que o Espírito Santo faria os apóstolos lembrar? (Jo 14.26). E depois ele manda que tudo o que eles receberam fosse ensinado aos outros (Mt 28.20).. Esta ordem deixou de valer? Quando? Cremos que o “tudo” do Senhor não é qualquer coisa menor que o compromisso com o pleno conhecimento de Deus expresso na Bíblia (2Pe 1.2,3,8; 3.18).

E se tratando de obreiros e plantação de igrejas, o modelo que a Bíblia oferece exige critério, responsabilidade e ação do Espírito Santo. Devemos zelar pelos rumos doutrinários de nossas igrejas, pois os desvios em nosso meio são largamente tratados na Bíblia. Os falsos profetas já operavam nos dias de João (1Jo 4.1). Falsos mestres, ensinos que levavam as igrejas a aceitar a doutrina dos nicolaítas (Ap 2.15) e de Jezabel (Ap 2.20), já se acumulavam há quase 2000 anos, o que se dirá hoje, já que Paulo diz que seria progressiva a ação dos perversos e enganadores (2Tm 3.13). Contaminada por estes falsos ensinos, facilmente, a igreja perde o primeiro amor (Ap 2.4) ou se desvia (Ap 2.5). Das sete igrejas da Ásia, apenas a de Esmirna não recebe repreensão da parte do Senhor. As outras seis são confrontadas e chamadas a algum tipo de concerto. O mais preocupante é o caso da Laodicéia, que se identifica com a igreja que antecederá a volta de Cristo (Tim LaHaye, Darby, Scofield ), e vivia uma ilusão. Pensava que era rica, mas era pobre. Pensava que enxergava, mas era cega. Pensava que estava vestida com roupas finas, mas estava nua.

Não seria isto um acréscimo à responsabilidade dos servos do Deus Zeloso a preocupação com a doutrina e seus distúrbios e nossos dias? Se esmerar em conhecer a vontade de Deus para ajudar esta igreja de hoje a reconhecer a sua situação e buscar atender a recomendação de Jesus Cristo é um chamado gritante. Como fazer isto sem preparação? Impossível.

Pela fragilidade no ensino da Palavra muitos estão deixando o amor à verdade e por isso sendo entregues à astúcia do engano (2Ts 2.11-12).

A velha e conhecida recomendação do apóstolo Pedro continua válida: “Antes, crescei na graça e no conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A Ele seja dada a glória, assim agora como no dia da eternidade. Amém!” (2Pe 3.18).

 

Por Samuel Alves