QUEM NÃO OUVE CONSELHO ...

30/07/2014 10:04

Não sei se ainda é muito dito por ai, algo que ouvia em minha juventude: quem não ouve conselho ouve "coitado!". E mais tarde, buscando conhecer a Palavra de Deus, descobri que não há tal provérbio na Bíblia, mas várias equivalências, de modo a que podemos dizer que há base bíblica para tal afirmação.

Nosso interesse, e até mesmo atenção em ser aconselhados, está vinculado diretamente com nosso nível de humildade e orgulho. Claro, o orgulhoso tem elevado senso de si próprio, e dificilmente se sujeita ao reconhecimento de que precisa de ajuda para pensar sobre as questões que lhe sejam atinentes. Portanto, seguidamente toma suas decisões, sem buscar qualquer ajuda, sem nada compartilhar com o sentido de ouvir a outros, e nem ao próprio Deus, pois entende que é autossuficiente, capaz, não se submetendo a isso.

Em muitos casos, este orgulhoso na verdade vai além do estágio de se ver suficiente para tomar todas as decisões em sua vida sem ouvir ninguém, se comportando como um verdadeiro "cabeça dura". Mesmo que alguém busque ajudá-lo, sugerindo uma alteração de direção, ele se encontra suficientemente arraigado em seu próprio entendimento, em confronto com a recomendação bíblica que diz "confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento" (Provérbios 3.5).

Para Deus esta questão é tão séria que o orgulhoso, este "cabeça dura", também chamado de obstinado, porfiador, arrogante, é tido por Ele como um idólatra (1 Samuel 15.23). Isto mesmo. Idólatra porque adora a si próprio, exalta a si mesmo e tem a si em tão alta conta que não pode ouvir nem mesmo a orientação de Deus. Normalmente nem a Palavra de Deus tem acesso aos corações dos que se exaltam, cheios em sua própria vaidade e arrogância (Efésios 4.18). O problema é que em relação aos céus, "ficarão de fora os cães, os feiticeiros, os adúlteros, os homicidas, os idólatras, e todo o que ama e pratica a mentira" (Apocalipse 22.15).

Por outro lado temos aqueles que até ouvem conselhos, mas se limitam a buscar conselheiros que possam validar suas pretensões. Buscam na verdade não uma genuína ajuda para tomar a decisão mais acertada e que melhor agrade a Deus, mas buscam conselheiros que aplaudam e apoiem os anseios de seu coração. Uma posição igualmente perigosa.

Não foi assim que o filho de Salomão agiu. O jovem rei Roboão protagonizou uma insensatez. E o fez após ouvir conselhos. Vários conselheiros. O problema é que se equivocou em relação aos conselheiros que decidiu escutar. Isto está registrado no livro de 1 Reis, capítulo 12. O povo de Israel pede clemência, alívio em suas obrigações civis. Ele pede conselho aos anciãos que tinham servido junto a seu pai, que aconselham atender ao povo. Mas ele, deixando o conselho dos anciãos, foi ouvir os jovens que haviam crescido com ele e lhe serviam, e estes deram um conselho que somente destacou a arrogância daquele jovem rei. Mediante as pesadas palavras proferidas ao povo, naquele dia o reino se dividiu, ficando apenas duas das doze tribos com o rei Roboão. Ele errou na opção de ficar com conselheiros que não eram dirigidos por Deus.

Em vários momentos a Bíblia dá notícias de decisões erradas, tomadas por pessoas que se deixaram influenciar por maus conselheiros. Chama-me atenção a previsão bíblica para os dias finais, que creio serem os nossos dias, quando o Espírito Santo, usando Paulo, diz que "virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos, e não só desviarão os ouvidos da verdade, mas se voltarão às fábulas" (2 Timóteo 4.3,4).

Pessoas que buscam orientação e aprendizado, pois buscam mestres, mas mestres que atendam a suas próprias pretensões. Então fugirão daqueles ensinos que possam incomodá-los, confrontá-los, mas tão somente se aproximarão daqueles mestres que atendam aos interesses que já definiram em seus corações. Da Palavra de Deus retirarão tão somente os textos que lhes interessam, ignorando textos que possam incomodar ou cobrar além do que tenham interesse em se sujeitar.

Por isso a Bíblia diz que um sinal do fim dos tempos é a apostasia. Para alguns este é um dos mais fortes sinais do fim, pois só os crentes podem apostatar. Apostasia é o abandono ou negação da fé. É a negação prática dos ensinos da Palavra de Deus e um distanciamento da vontade de Deus. É um ateísmo prático.

Por isso o aviso bíblico: "Mas o Espírito expressamente diz que em tempos posteriores alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios, pela hipocrisia de homens que falam mentiras e têm a sua própria consciência cauterizada" (1 Timóteo 4.1,2). Temos nestes últimos dias uma gigantesca onda de maus conselheiros, enganando, como verdadeiros lobos vestidos de ovelhas (Mateus 7.15) e estão arrebatando a vida de muitos.

Atentemo-nos para o fato de que a culpa não é exclusiva dos maus conselheiros, falsos mestres, mas dos que se deixam influenciar por eles. A Bíblia é suficiente para lhes dar condições de julgar e avaliar seus ensinos. Contudo eles elegem conselheiros como fez Roboão, para atender a sua própria maldade.

O engano praticado pelos falsos mestres, e por final praticado pelo próprio anticristo, só alcançará aqueles que não amam a verdade. Os que procuram mestres que atendam a seus próprios interesses serão vítimas de seu próprio erro, e Deus próprio os entregará à operação do erro. Assim diz a Palavra de Deus: "a esse iníquo cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás com todo o poder e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça
para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para serem salvos. E por isso Deus lhes envia a operação do erro, para que creiam na mentira" (2 Tessalonicenses 2.9-11).  Releiamos este texto várias vezes e meditemos nisso. Muitos a nossa volta estão apostatando da verdadeira fé, por não amar a verdade. E se deixando enganar. Estão ouvindo conselhos errados.

Claro, há os que são humildes o suficiente para buscarem conselhos e bons conselheiros. Que eu e você façamos parte deste pequeno grupo.  Estes não estão firmados em seu próprio entendimento (Provérbios 3.5), mas de modo inverso sabem que enganoso é o nosso coração (Jeremias 17.9; Salmo 53.1-3; Provérbio 28.26; Eclesiastes 9.3; Mateus 15.19; Hebreus 3.12), indigno de nossa confiança. Se tem algo que não merece confiança é nosso próprio coração.

Por isso o apelo bíblico a que nos entreguemos ao controle do espírito e não ao controle da carne. "Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser; e os que estão na carne não podem agradar a Deus" (Romanos 8.6-8).
Ser controlado pela carne equivale a ser controlado por nossas emoções, nossa vontade e nossa razão, acima da direção de Deus em nossas vidas. É deixar que nosso coração nos conduza, quando esta condução deve ser confiada somente a Deus. 

Se dermos guarida aos intentos de nossos corações, como já demonstrado nas várias referencias anotadas acima, seremos vítimas de nos mesmos. "Cada um, porém, é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência; então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e
o pecado, sendo consumado, gera a morte" (Tiago 1.14,15).

Urge então a necessidade de ouvir bons conselhos e, por consequência, de ouvir bons conselheiros. "Quando não há sábia direção, o povo cai; mas na multidão de conselheiros há segurança" (Provérbios 11.14).  Por isso, de fato, quem não ouve conselho, ouvirá sobre si alguém dizendo: "coitado".

Todos nós precisamos de ajuda em vários momentos de nossas vidas. Nossas decisões precisam ser centradas em Deus. A lógica de nossos corações não é confiável. E se não formos humildes para reconhecer isso, poderemos perder tudo. Quando o Senhor diz "Maldito o varão que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor!" (Jeremias 17.5), está falando de uma maldição que começa na exagerada confiança em nos
mesmos, pois nossa independência de Deus, e claro, de sua vontade e orientações expressas em sua Palavra, nos destrói.

Precisamos buscar o conselho do Senhor. Afastemo-nos da condição de orgulhosos que não se submetam a dependência de conselhos e conselheiros.  Cuidemos para que não sejamos presas de homens maus e enganadores, que marcam estes nossos últimos dias, com ensinos parciais, meias verdades, filosofias bonitas, mas ocas, sem a essência da vontade de Deus, por medo de ferir sentimentos, de afastar contribuintes.

Precisamos buscar ensinos verdadeiramente bíblicos e, portanto homens de Deus. Isso exige atenção ao ensino de Paulo, pelo Espírito Santo, a Timóteo, quando orienta: "Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a infância sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela que há em Cristo Jesus. Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra" (2 Timóteo 3.14-17).

Fazendo assim você ao final não ouvirá "coitado", mas ouvirá, em alto e bom som, dito por Cristo, "vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo".  


Pr. Samuel Alves Silva, 07/2014.